Os números gerais da primeira pesquisa – aqueles em que todo mundo presta atenção – cumprem papel de demarcar espaços na disputa. O resultado posiciona os concorrentes no “campo de batalha” eleitoral. Claro que haverá deslocamentos de status das candidaturas, mas a partir dessas posições iniciais. Além disso, há o impacto simbólico. Os percentuais mexem invariavelmente com militantes, possíveis financiadores e com a percepção geral do público em relação aos competidores. Para além disso, a certeza que se pode ter em relação à pesquisa estimulada é de que ela irá fatalmente mudar ao longo da campanha. Dos sete primeiros colocados, não dá para assegurar que nenhum deles está definitivamente fora da briga pelo segundo turno. Os detalhes dos números, que O POVO vem publicando desde domingo, ajudam a projetar o rumo que essa mudança pode tomar.
QUEM GANHA E QUEM PERDE
A pesquisa ainda renderá conversa e análise para mais de metro. Vamos, então, por partes. Primeiro, vale observar o efeito simbólico citado acima. Ele se dá não pelo que o resultado é, mas pela forma como ele parece perante a opinião pública. Nesse sentido, observemos o saldo para os candidatos. Para Moroni Torgan (DEM), evidentemente, a pesquisa foi excepcional. Ele já liderou pesquisas em 2004 e 2008. Mas nunca teve vantagem tão grande sobre os demais. Praticamente o dobro do segundo colocado. Deve ganhar fôlego e, sobretudo, atrair doadores.Para Inácio Arruda (PCdoB), foi um relativo baque. Ele tem longo histórico de confrontos contra Moroni. A partir de 2004 até a eleição como senador, em 2006, e também na pesquisa anterior, realizada pelo Ibope, apareceram sempre de forma mais ou menos parelha. À frente ou atrás, eles nunca descolaram de forma tão significativa. Com nível de conhecimento muito parecido com o do concorrente do DEM, conforme O POVO mostra hoje, era de esperar que estivessem próximos.
Para Heitor Férrer (PDT), a pesquisa é muito boa. Embora a vantagem em relação ao bloco que vem atrás esteja dentro do li mite máximo da margem de erro, ele simbolicamente se coloca no bloco de cima e, hoje, brigaria pelo segundo turno. Comprova, assim, sua visibilidade. A situação na pesquisa deve revigorar seu fôlego.
BLOCO INTERMEDIÁRIO
Comparar pesquisas de institutos diferentes é sempre polêmico. Entre os números do Datafolha e os do Ibope é mais inadequado ainda. No segundo caso, os candidatos a prefeito nem estavam definidos, o PSB ainda negociava aliança com o PT, sem falar que o levantamento foi encomendado por um partido – coisa que o Datafolha não aceita. Além disso, a amostra do Datafolha é mais de 60% maior. Mesmo assim, não se pode desconsiderar que, em ambos os casos, o objetivo da pesquisa é aferir intenções de voto para o mesmo processo eleitoral. Não dá para falar em crescimento ou queda de ninguém. Mas se pode observar o patamar dos candidatos em uma e outra. Nesse aspecto – que acaba sendo inevitável – percebe-se Inácio em patamar diferentes, deslocado de Moroni. E se vê que o resultado é particularmente bom para Renato Roseno (Psol). Além do candidato do DEM, ele é o único que mantém o patamar mostrado pelo Ibope.O resultado de Marcos Cals (PSDB) está dentro do previsível. Surpreendentes eram os 15% mostrados no Ibope. Mas, diante da expectativa criada, o resultado não deixa de trazer certa decepção.
OS HOMENS DAS MÁQUINAS
A pesquisa O POVO/Datafolha é boa para Roberto Cláudio (PSB), não pelo seu resultado em si, mas pela vantagem simbólica em relação a Elmano de Freitas (PT) – que, a rigor, está dentro da margem de erro. Pelo mesmo raciocínio, Elmano não foi mal, mas é inevitável a frustração em relação ao concorrente também desconhecido.Curiosíssimos os dados da pesquisa O POVO/Datafolha sobre o efeito dos apoios. Com exceção de Lula, a rejeição provocada pelos apoiadores é tão grande quanto ou até maior que a adesão, mesmo quando é apenas possibilidade. É necessário considerar que os números mostram situação em tese, não os vínculos objetivos. Na prática, pelo menos 80% dos eleitores não associam os principais apoiadores a ninguém. Mas fica evidente que o atrelamento aos ícones políticos, com exceção de Lula, é ambíguo e, talvez, muito menos relevante que o marketing explora. E pode ser alentador para os candidatos independentes. Há exemplos na história recente de Fortaleza de que a falta de apoios pode até virar trunfo.
A força de Lula não surpreende. A rejeição a Tasso Jereissati (PSDB) e Luizianne, muito menos. Mas chama atenção o desempenho de Dilma Rousseff (PT), cujo apoio é motivo para 45% não votarem no candidato. E mais ainda o do bem avaliado Cid Gomes (PSB), que tem 52% de eleitores que não votariam em quem ele apoiar.
PANO PARA MANGA
A coluna retoma o assunto amanhã. Trata do desempenho de Moroni e da boa notícia que a avaliação traz para Luizianne.
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