POZNAN, Polônia – Para entender como a Polônia superou seus vizinhos e se tornou um lampejo de esperança num continente assolado pela crise, basta viajar até esta cidade pela estrada que já foi uma esburacada rota entre Berlim e Varsóvia.
A lisa autoestrada, concluída em junho, é ainda tão nova que muitos postos de gasolina ou de descanso ao longo do caminho ainda estão em obras.
Poznan, que fica entre as duas capitais e, ao longo do tempo, foi diversas vezes negociada entre Alemanha e Polônia, foi a principal beneficiária das relações substancialmente melhoradas entre os dois países. A fronteira aberta facilitou o comércio enquanto as regras da União Europeia estimularam investimentos, cumprindo a promessa de associação antes que o bloco fosse absorvido pela crise da dívida soberana.
Reluzentes ônibus novos, aguardando testes da estrada na sede da Solaris Bus and Coach, em Bolechowo, contam a história do sucesso nas exportações. Os ônibus brancos e cor-de-rosa são destinados a Mönchengladbach, na Alemanha, brancos e azuis para Vasteras, na Suécia, e amarelos para Aarhus, na Dinamarca.
Corporações estrangeiras, incluindo Volkswagen, Bridgestone e GlaxoSmithKline, possuem operações dentro ou perto de Poznan, uma cidade com mais de meio milhão de habitantes. De acordo com o gabinete estatístico do governo da Polônia, em maio de 2012, Poznan e Varsóvia estavam empatadas com a menor taxa de desemprego do país, em 4 por cento.
Mas Poznan também ilustra as ameaças impostas ao sucesso da Polônia, sem falar das economias mais fracas da Europa. As verbas para infraestrutura da União Europeia, que ajudaram a construir a estrada, estão sendo eliminadas. Os cofres vazios em países abalados, junto ao foco na austeridade em vez de no gasto de estímulos, ameaçam afetar também o crescimento da Polônia.
“Em 2008 e 2009, não chegamos a sentir a crise financeira”, declarou Malgorzata Olszewska, diretora global de vendas e marketing da Solaris. Após um ano recorde para a empresa em 2011, com receita superior a US$ 450 milhões, as vendas caíram quando Grécia, Espanha e Portugal praticamente pararam de comprar e a Itália ficou mais cautelosa. “Foram três mercados que sumiram completamente”, explicou ela. “Não estamos pessimistas, mas ficamos mais cuidadosos.”
Os poloneses têm boas razões para acreditar que possam vencer as probabilidades mais uma vez. A economia da Polônia foi a única que não encolheu em 2009, o pior ano da crise financeira. Mesmo longe dos 6,8 por cento atingidos em 2007, o crescimento está previsto para 2,7 por cento neste ano – o maior do bloco, após crescer 15,8 por cento entre 2008 e 2011.
Segundo André Sapir, pesquisador sênior e economista da organização Bruegel, em Bruxelas, o sucesso da Polônia seria resultado da boa gestão de políticas monetárias e fiscais, mantendo suas dívidas baixas e a taxa de câmbio flexível.
E com 38 milhões de habitantes (mais do a República Tcheca, Eslováquia e Hungria somadas), o grande mercado interno garante as empresas polonesas, tornando-as menos dependentes da exportação do que seus vizinhos menores.
“Gosto de comprar de empresas polonesas porque o dinheiro fica aqui”, afirmou Tomasz Niespodziany, de 22 anos, enquanto fazia compras na cadeia polonesa de joalherias Apart – que cria e produz suas joias em Poznan e as vende em 180 lojas em todo o país.
Perguntando em Poznan, os moradores oferecem todo tipo de explicação para seu recente sucesso.
Perguntando em Poznan, os moradores oferecem todo tipo de explicação para seu recente sucesso.
Alguns dizem que a história acostumou os poloneses a mudanças tão drásticas na sorte que eles aproveitam a vida enquanto podem, gastando todos os zlotys recebidos. Outros dizem que eles aprenderam a ser engenhosos durante as dificuldades do comunismo.
Niespodziany atribui o sucesso a uma forma positiva de incompetência. “Nem mesmo a crise funciona na Polônia”, brincou ele.
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