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segunda-feira, 30 de julho de 2012

Milhares fogem de crise no Mali


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         MBERA, Mauritânia — O desértico norte do Mali está atraindo extremistas islâmicos que impõem seu controle a Timbuktu e outras cidades, levando milhares de pessoas a fugirem.

Recém-chegados a este acampamento para 92 mil pessoas no remoto extremo leste da Mauritânia descrevem um afluxo de jihadistas —alguns nativos, outros de muito longe— decididos a imporem uma lei islâmica do açoite e do revólver aos muçulmanos malineses, que há muito tempo convivem pacificamente com turistas ocidentais na lendária cidade de Timbuktu.

Os refugiados —de Timbuktu e de outras cidades— relatam agressões contra quem é suspeito de violar a “sharia” (lei islâmica).
“Eles disseram: ‘Vocês são ladrões. Por que estão na rua a esta hora?’”, contou Mohamed ag el Hadj, 27, ex-soldado do Exército malinês. Ele e um amigo haviam saído para um passeio às 19h quando foram cercado por dois carros cheios de homens armados.

Os dois amigos, com os braços amarrados pelas costas, foram atados a uma árvore e obrigados a passarem a noite ajoelhados, curvando-se para frente.

“Foi assustador”, contou Hadj. “Eles me insultaram, me chamaram de selvagem, de infiel.”

Os refugiados daqui dizem que homens fortemente armados de várias raças, nacionalidades e idiomas estão agora patrulhando as ruas. Um deles contou ter encontrado afegãos, paquistaneses e nigerianos.

Especialistas americanos em contraterrorismo já manifestaram o temor de que o Mali se torne um ímã para terroristas internacionais.
“A preocupação é de que esses grupos locais estabeleçam mais um refúgio no norte do Mali para servir como base operacional”, disse um funcionário dos EUA que pediu anonimato. “Aí talvez o norte do Mali se torne um destino para combatentes estrangeiros da região como um todo e até de mais longe, mas ainda não está assim.”

Os extremistas islâmicos em Timbuktu já destruíram pelo menos seis tumbas acima do solo de homens santos reverenciados na cidade antiga, proclamando que essa forma de sepultamento é contrária à “sharia”. A destruição causou indignação entre cidadãos locais e organizações internacionais.

O músico itinerante Ali ag Diaba disse ter visto cidadãos sendo açoitados e despidos nas ruas de Goundam por militantes islâmicos contrários à seita sufi malinesa,que propõe uma relação mais mística e pessoal com a divindade.

O mini-Estado extremista do norte do Mali é uma consequência imprevista do colapso daquilo que o Ocidente via —equivocadamente— como uma democracia africana estável. No fim de março, oficiais militares insatisfeitos com a reação do governo a uma rebelião de nômades tuaregues no norte promoveram um golpe e instalaram uma junta militar sob o comando de um oficial formado nos EUA, após duas décadas de governos eleitos.

A junta depois disso cedeu o poder a um governo civil, mas continua a exercer uma influência indevida aos olhos de outros países, enquanto agressões e prisões arbitrárias —especialmente de jornalistas críticos— ocorrem regularmente em Bamaco, a capital, e o Exército está em polvorosa, incapaz de reagir à perda de metade do território do país.

Alguns dos extremistas são membros nativos do grupo Ansar Dine, apoiado pela Al Qaeda, segundo especialistas. Outros supostamente são membros da Al Qaeda no Magreb Islâmico (AQMI), “filial” do grupo com presença em toda a faixa do Sahel.

“A AQMI é composta de gente do mundo todo”, disse Mohamed Toutta, um líder tuaregue neste campo de refugiados. “Não podemos lutar contra o mundo todo.”

A União Africana, por intermédio do grupo regional Ecowas, discute o envio de uma força militar para o Mali.

Enquanto isso, as mulheres do norte do Mali estão sendo molestadas. Aishatta Abdou, 30, mãe de seis filhos, foi perseguida por homens armados nas ruas de Timbuktu por estar caminhando sem o marido. Sua amiga Fadimata Ouallet foi arrancada de um carro por ser a única mulher no interior do veículo, embora os homens fossem seus parentes. “Saia ou vamos matar você”, disseram os militantes, apontando-lhe uma arma. “Tremi a noite toda, com medo. Ainda posso vê-los”, contou a mulher.

Por enquanto, nada contém aquilo que os refugiados descrevem como um reinado do terror. Governos ocidentais e africanos não chegam a uma decisão sobre intervir ou não. O governo malinês e os rebeldes tuaregues também estão paralisados.

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