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segunda-feira, 30 de julho de 2012

Um incômodo ronda Londres

                                          Londres

Um helicóptero sobrevoou minha esquina de Londres uma noite dessas, uma ave barulhenta na madrugada, e eu pensei que devia ser algum tipo de treinamento para os Jogos Olímpicos, cujo esporte mais comentado hoje em dia parece ser a segurança. Os jornais continuam perguntando: o que pode dar errado?

A apreensão é compreensível. Estamos tendo um verão estranho. O mês de junho mais úmido em décadas foi seguido por um julho muito úmido. A crise financeira na Europa foi tão persistente quanto a chuva. O governo Cameron tropeça no embaraço orçamentário para cair na humilhação pelos grampos telefônicos. Nem mesmo a vitória britânica no Tour de France, uma imperdoável invasão anglo-saxã no mais sagrado esporte francês, levantou o moral nacional.

Londres é a cidade do dinheiro, o lugar onde os ricos da Rússia, da China e outros países compram o regime da lei, por isso talvez não seja surpreendente que nestes tempos difíceis para o dinheiro a cidade tenha um clima tenso.

Londres também é uma ilha de relativa prosperidade em um país de crescente pobreza e desemprego: Cingapura com o Sudeste Asiático empobrecido batendo à porta.

Esse incômodo não pode ser totalmente mantido à distância. Vista de Wigan, a Olimpíada, que começou na sexta-feira, pode parecer uma celebração improvável.

Especialmente quando a segurança é contratada de uma companhia chamada G4S e tal corporação revela à véspera dos Jogos que não pode fornecer os prometidos 10.400 guardas de segurança treinados —supostamente, não por falta de jovens em busca de emprego— e é iniciada uma corrida para recrutar guardas cujo treinamento como “rastreadores” de máquinas de raios X parece duvidoso.

Uma reportagem no  jornal “Guardian” sugeriu que a G4S está tão desesperada para encontrar guardas que estaria lhes dando diversas oportunidades de passar nos testes. Um artigo na primeira página afirmava: “Os recrutas estão recebendo apenas 20 minutos de prática em máquinas reais que serão usadas nos locais olímpicos para impedir que os visitantes tragam materiais perigosos ou possivelmente um IED [dispositivo explosivo improvisado, em inglês]”.

Não quero subestimar ou perdoar a incompetência dessa empresa, mas acho que estamos vendo algo do que os psicólogos chamam de “transferência”. As pessoas estão ansiosas sobre suas vidas no Reino Unido e no Ocidente, por isso decidiram ficar ansiosas sobre a Olimpíada. A verdadeira questão é alimentar a família, encontrar emprego, pagar a hipoteca —são a revolta dos jovens e as orgias de bebidas e droga. E suponho que de certa forma todas essas coisas representam um dispositivo explosivo, embora não do tipo encontrado nas ruas de Bagdá ou de Damasco.

Além disso, há algo de ritualístico no debate sobre o fracasso do grande evento. Oito anos atrás, o novo aeroporto de Atenas não ficaria pronto e a Olimpíada grega seria um fiasco: tudo correu bem. 
Dois anos atrás, eu estava na África do Sul antes da Copa do Mundo e as previsões de desastre eram muitas. Volência, roubo e caos envolveriam os visitantes na primeira Copa do Mundo da África, mas o evento foi um sucesso.

Espero que em Londres, também, tudo corra bem. O sol apareceu finalmente. Encontrei Boris Johnson, o descabelado prefeito de Londres, uma noite dessas e ele prometeu um evento magnífico, tão animado e divertido quanto ele mesmo. Mark Cavendish seguirá a vitória de Bradley Wiggins no Tour de France com um ouro britânico na corrida olímpica e Usain Bolt, o explosivo velocista jamaicano, fará valer seu nome (“raio”).

O dia seguinte é outra história. Diferentemente da Grécia em 2004, estes Jogos estão sendo realizados em um momento em que a grande ilusão criada pela dívida desmoronou e a noção de risco, longe de estar suspensa, tornou-se uma obsessão.

A G4S não é uma aberração: é um exemplo da cultura do “pegue o dinheiro e depois se preocupe”. Mesmo que o Reino Unido seja feliz no próximo mês e os pessimistas, como eu espero, estejam errados, não é um país feliz.

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