WASHINGTON — Numa expansão significativa da guerra às drogas, os Estados Unidos começaram a treinar uma unidade de elite da polícia antinarcóticos de Gana e unidades de planejamento na Nigéria e no Quênia, como parte dos esforços para combater os cartéis latino-americanos que cada vez mais usam a África para contrabandear cocaína para a Europa.
O crescente envolvimento na África ocorre após uma escalada dos esforços antidrogas na América Central.
Em ambas as regiões, as autoridades americanas reagem à preocupação de que a repressão em pontos mais diretos do contrabando —como México e Espanha— tenha levado os traficantes a atuarem em Estados menores e com governos mais fracos.
Mais atenção e recursos estão sendo mobilizados para o combate ao narcotráfico agora que as guerras do Iraque e do Afeganistão estão em fase de desmantelamento.
“Vemos a África como a nova fronteira em termos das questões de contraterrorismo e contranarcóticos”, disse Jeffrey Breeden, chefe da seção da DEA (agência antidrogas dos EUA) para a Europa, a Ásia e a África.
As iniciativas ocorrem num momento em que várias apreensões foram feitas em Honduras desde maio, mas autoridades americanas tiveram de se justificar depois que agentes da DEA, acompanhando policiais hondurenhos, se envolveram em três operações que resultaram em mortes.
Na África, o esforço para combater o narcotráfico estaria cerca de três anos atrasado em relação à América Central.
Em maio, William Brownfield, secretário-assistente de Estado para questões de drogas e polícia, viajou a Gana e à Libéria para concluir a Iniciativa Cooperativa de Segurança da África Ocidental, que tentará replicar em 15 países as medidas previamente adotadas contra os cartéis na América Central e no México.
Brownfield disse que a intenção em ambas as regiões é melhorar a capacidade das nações para lidar com o narcotráfico, pela construção de instituições próprias e pela cooperação entre elas, partilhando inteligência e operando centros regionais de treinamento para agentes legais.
Mas, acrescentou ele, como os traficantes já se mudaram para a África, há também a necessidade imediata de unidades policiais de elite, já treinadas e submetidas a testes.
Bruce Bagley, professor da Universidade de Miami que se concentra
na América Latina e no combate às drogas, disse que o que aconteceu na África Ocidental nos últimos anos foi o mais recente exemplo de um problema de interdição.
“Conforme eles [autoridades] pressionam, eles [traficantes] desviam as rotas, mas não vão parar o fluxo, porque as instituições são incrivelmente fracas —não me importa quantos testes eles façam”, disse Bagley. “E sempre há a contrapartida disso. Você começa a matar pessoas em países estrangeiros —sejam elas criminosas ou não— e haverá consequências.”
Funcionários do governo americano dizem que, embora a intervenção leve a um aumento na violência ao desafiar organizações que antes operavam impunes, a alternativa a isso é pior. Segundo Brownfield, países de trânsito das drogas acabam por se tornar grandes consumidores.
A ONU afirma que o tráfico e o consumo de cocaína na África Ocidental dispararam nos últimos anos, contribuindo para a instabilidade. Há vários anos, uma quadrilha sul-americana tentou subornar o filho da presidente liberiana para liberar o país para o tráfico de drogas.
Ainda mais preocupante, segundo autoridades americanas, foi um caso em que o grupo Al Qaeda no Magreb Islâmico ofereceu três dos seus militantes para ajudar na transferência de toneladas de cocaína através do norte da África até a Europa —tudo para arrecadar fundos para atentados terroristas.
O processo foi encerrado em maio passado, com a condenação e anúncio da sentença numa corte federal de Nova York.
A ajuda antidrogas dos Estados Unidos à África Ocidental totalizou cerca de US$ 50 milhões em cada um dos dois últimos anos, diante de apenas US$ 7,5 milhões em 2009, segundo o Departamento de Estado.
A ajuda antidrogas dos Estados Unidos à África Ocidental totalizou cerca de US$ 50 milhões em cada um dos dois últimos anos, diante de apenas US$ 7,5 milhões em 2009, segundo o Departamento de Estado.
O Pentágono trabalhou com Cabo Verde para estabelecer um centro regional de detecção de navios com drogas.
É a primeira vez que a DEA patrocina a criação de unidades na África Ocidental, mas a agência já fez isso em outros países com forças de segurança assoladas pela corrupção, como a República Dominicana, El Salvador, a Guatemala e o Panamá.
William Wechsler, principal autoridade antinarcóticos do Pentágono, disse que observar os avanços do narcotráfico na África Ocidental é como assistir a uma repetição da guerra às drogas nas Américas.
“A África Ocidental está agora enfrentando uma situação análoga à do Caribe na década de 1980, em que países em desenvolvimento pequenos e vulneráveis, no meio de rotas do narcotráfico para consumidores ricos, estão amplamente carentes de recursos para lidar com a onda de dinheiro sujo vindo na sua direção.”
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