Em regra, debates perdem qualidade e profundidade na proporção inversa do número de participantes. Mas, como sete dos oito candidatos que se confrontaram na TV O POVO representam efetivamente setores políticos significativos, praticamente todos os embates eram as chamadas brigas de cachorro grande. Como era de se esperar, Elmano de Freitas (PT) foi o mais apertado. Nesse sentido, pelas cobranças à administração à qual pretende dar continuidade, foi o personagem principal – juntamente com a prefeita Luizianne Lins, que nem candidata é, nem lá estava. Elmano esquivou-se como pôde e não deixou passar a oportunidade de se vitimizar, ao apontar que estava ali na condição de sete contra um. Para quem é o único candidato do “G7” sem experiência eleitoral, o desempenho, na maior parte do tempo, foi dentro do esperado para quem esteve sob tanta pressão. Mas foi mal quando deixou de dar algumas respostas. Por vezes, inexplicavelmente, como na forma evasiva com que respondeu à pergunta da produção, no começo do programa e sem saia justa alguma, sobre a prioridade no caso de ser eleito. E, sobretudo, na forma escorregadia com que respondeu a Renato Roseno (Psol) sobre os terceirizados. Informação que, anunciou, estaria no Portal da Transparência, mas não é encontrada a olho nu. Nesse particular, ficou mal na fita. Elmano também escorregou ao dizer que o problema da saúde é nacional, ao mesmo tempo em que ancora seu discurso principalmente no apoio da presidente Dilma Rousseff e do ex-presidente Lula. Saiu-se bem, por outro lado, ao capitalizar as oportunidades em que os adversários reconheciam e prometiam ampliar ações da gestão Luizianne.
ROSENO FOI O MAIS AGRESSIVO
Renato Roseno foi o mais incisivo e agressivo. Ao contrário dos demais, não aceitou levantadas de bola. Com isso, tentou se diferenciar de todos os demais, e não apenas do candidato da prefeita. Foi o único a atacar mesmo quando não era atacado. Nessa estratégia ofensiva, contudo, levou dois contragolpes. Um de Marcos Cals (PSDB), que apontou o vínculo passado entre o candidato do Psol e a gestão Luizianne – o que ficou sem resposta. O outro, de Moroni Torgan (DEM). Roseno o criticou por supostamente defender a repressão à juventude e à população. Mas o candidato do DEM retrucou que se referia, isso sim, à repressão aos barões do tráfico. O concorrente do Psol foi ainda ousado ao criticar Lula e Dilma. Foi coerente com a posição do partido, mas a postura deve lhe custar simpatias.A MARCA DA OPOSIÇÃO
Marcos Cals (PSDB) procurou se apresentar como único candidato de oposição pra valer. Demarcou isso ao vincular Roseno e também Inácio Arruda (PCdoB) à gestão Luizianne. No resto do programa, entretanto, não conseguiu se diferenciar dos demais ao sair do aspecto político. No mérito administrativo, suas críticas confundiram-se com as dos outros.
MAIS UM ROUND HEITOR X GOVERNO CID
Opositor contumaz do governo Cid Gomes (PSB), Heitor Férrer (PDT) protagonizou embate interessante com Roberto Cláudio (PSB). O pedetista o cobrou sobre o que apontou como fracasso do Ronda do Quarteirão. Em outro momento, Roberto Cláudio se contrapôs à proposta de Heitor de construir um novo IJF, ou um anexo, como Marcos Cals vem propondo. O candidato do PSB disse ser favorável à descentralização e ao atendimento perto de casa. Independentemente da posição que se tenha, esse tipo de delimitação é positiva para o eleitor perceber diferenças objetivas entre os candidatos e escolher aquele com que mais se identifica.
Além de criticar a segurança do governo Cid, Heitor se saiu bem nas considerações finais, ao lembrar momentos importantes de sua trajetória. Ali conseguiu se diferenciar.
DIFERENÇAS E SEMELHANÇAS
Já Inácio Arruda (PCdoB), que vinha se distinguindo pela insistência no planejamento, acabou tendo sua bandeira confundida com o professor Valdeci. O candidato do PRTB apresentou a mesma prioridade e falou antes do concorrente do PCdoB. Inácio, por sua vez, não conseguiu se sobressair.A POSTURA DO LÍDER
Líder nas intenções de voto, Moroni Torgan (DEM) conseguiu sair praticamente incólume dos entreveros que envolveram praticamente todos os adversários em algum momento. E foi bem ao reconhecer que há avanços na educação, para além dos problemas. Transmitiu imagem de que não faz só crítica eleitoreira.QUESTÃO MATEMÁTICA
O professor Valdeci questionou Elmano sobre a intenção de dar continuidade à gestão que, segundo ele, tem “71% de desaprovação”. Aparentemente, se referia aos 76% de eleitores que, na pesquisa O POVO/Datafolha, afirmaram que não votariam no candidato apoiado pela prefeita. O petista se defendeu e afirmou que a gestão teria aprovação de cerca de “40% da população”. Na verdade, o Datafolha mostrou que o índice de ótimo e bom da prefeita é a metade disso: 20%. O percentual de 40% foi para a avaliação regular. Em seguida, Elmano afirmou que, somado ao percentual de regular, a aprovação da gestão chegaria a 60%. Foi o único percentual correto citado na discussão. Embora o desempenho regular não possa, a rigor, ser contabilizado nem para o bem nem para o mal: fica no meio.
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