O presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, colocou em dúvida na sexta-feira (03) a validade e a admissibilidade, pela Corte, dos embargos infringentes, recursos nos quais os condenados pelo julgamento do mensalão tentarão modificar as respectivas sentenças nos casos em que o placar foi apertado (com pelo menos quatro votos pela absolvição do réu). "O tribunal terá de decidir se existem ou não (os infringentes)", afirmou.
O ministro, que participou na sexta-feira (03) em San José, na Costa Rica, de um evento da Unesco sobre liberdade de imprensa, lembrou que o Supremo precisa decidir se os embargos infringentes "sobrevivem", já que foi alterada a lei que rege os processos penais, acabando com esse tipo de recurso. Apesar da modificação da lei, o STF manteve a possibilidade do recurso em seu regimento interno. Ao discursar no evento, Barbos icriticou conexões de "advogados poderosos" com integrantes do Judiciário e a imensa possibilidade de recursos.
"Uma pessoa poderosa pode contratar um advogado poderoso, com conexões no Judiciário, que pode ter contatos com juizes sem nenhum controle do Ministério Público ou da sociedade. E depois vêm as decisões surpreendentes", disse ele.
Nesses casos, avaliou o ministro, uma pessoa acusada de cometer um crime é deixada em liberdade em razão dessas relações. "Não é deixada em liberdade por argumentos legais, mas por essa comunicação não transparente no processo judicial", atacou.
Barbosa já havia criticado em sessão do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) o que chamou de conluio entre juiz e advogado. Agora, atacou as conversas privadas ou reservadas entre juiz e advogado sobre os processos. Na avaliação de Barbosa, isso é "antiético" e um problema cultural brasileiro que contribui para a impunidade.
O ministro do Supremo disse ainda que a Justiça brasileira pune majoritariamente pessoas pobres, negras e sem relações políticas. "Pessoas são tratadas diferentemente pelo status, pela cor da pele, pelo dinheiro que tem", acrescentou. "Tudo isso tem papel enorme no sistema judicial e especialmente na impunidade."
Outro fator que contribui para a impunidade, disse, é o foro privilegiado. "No Brasil tem algo chamado foro privilegiado, o que significa que, se um prefeito é acusado de cometer um crime, ele não terá o caso julgado por um juiz regular(...)Se o acusado é um ministro de Estado, membro do Congresso ou ministro do Supremo, o caso será decidido pela Suprema Corte." Em várias ocasiões, ministros do STF já confidenciaram, porém, que se não fosse o foro o julgamento dos mensaleiros não teria ocorrido ainda.
Prazos
Os embargos infringentes aos quais Barbosa se referiu ontem só poderão ser apresentados pelos condenados do mensalão numa segunda etapa de recursos. Na quinta-feira, terminou o prazo para a entrega dos chamados embargos declaratórios, que servem para esclarecer pontos obscuros da decisão do STF. Esses recursos podem, no máximo, alterar o tamanho das penas. Já os embargos infringentes podem implicar revisão de sentenças.
Barbosa reforçou ontem que, "tecnicamente", os embargos de declaração não têm poder de mudar o resultado do julgamento. "Embargos de declaração visam apenas corrigir eventuais contradições", disse o presidente do Supremo.
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