No Natal de 2011, Mayan nada ganhou de presente. A baixa renda dos pais não permitiu mimos para ele e as irmãs. “Mas esse vai ser diferente”, acredita o garoto. Se for, Adrielly, 10, já sabe em quem se transformaria: “A garota mais feliz do mundo”. Mas, no caso de Papai Noel não poder dar o que foi pedido, “qualquer brinquedo serve”, garante Jessiana, 10.
Mayan, Adrielly e Jessiana são três esperanças ainda penduradas na árvore montada na agência central dos Correios de Fortaleza. Esperam por um ato de solidariedade que pode acontecer até dia 14, nova data de encerramento da campanha “Papai Noel dos Correios 2012” - que terminaria ontem. Dos mais de seis mil pedidos colhidos de alunos de escolas públicas e crianças atendidas por instituições beneficentes da Capital, cerca de 4,5 mil estão apadrinhados.
Mas muita gente não entregaria os pacotes a tempo da primeira data de término da mobilização na agência onde retirou a cartinha. E ainda há 1,5 mil sonhos à espera de milagres silenciosos... Daí a necessidade de prorrogação.
Sem saber do esticar do prazo, muita gente correu ontem em busca das dez agências dos Correios envolvidas na força-tarefa do bem (ver quadro abaixo). O desejo de virar Papai Noel de alguns, inclusive, era maior do que o saldo da conta. A comerciante Elizabeth Maria Lima, 38, que o diga. “Ano passado, fiz promessa e adotei duas. Comprei duas bicicletas no cartão e passei dez meses pagando. Terminei agora”. Neste ano, ela fará nascer sorriso apenas no rosto de Israel. Dará um carrinho com controle remoto, conforme o desejo. Um encontro que quase não aconteceu. “Eu nem ia participar porque o dinheiro tá pouco. Mas vim ao banco aqui do lado e pensei: ‘Deus me dá todo mês pra pagar as contas e eu não vou ter pra ajudar?’”, ensina.
Segundo a coordenação da campanha, ainda há cartas sendo cadastradas para adoção. Boa parte revela sonhos simples. A bola e a chuteira que farão o garoto empregar tempo jogando na quadra do colégio ao invés de ficar na rua; a boneca que pode despertar na menina a necessidade do afeto; o kit caderno-caneta-lápis de cor que, quem sabe, fará nascer futuros poetas do traço a exemplo de Oscar Niemeyer. Mas há pedidos caros. De miniaturas de helicópteros com controle a casas da Barbie. De patins a óculos de marcas famosas.
Com a ajuda de duas irmãs, da mãe e do filho Felipe Henrique Bezerra, 15, a doméstica Maria Eliane Henrique Bezerra, 46, transforma neste ano sete sonhos em realidade. Mas lamentava ter reduzido a quantidade de presenteados. Foram dez ano passado. “Todo ano, guardo dinheiro pra isso”.
O “Papai Noel dos Correios” existe há 20 anos. Em 2011, 4,4 mil pequenos cearenses receberam mimos. Com o término da campanha dia 14, os Correios começam a entregar os presentes nas escolas dia 17. Até o Natal, os remetentes apadrinhados serão destinatários de felicidade. “Muitas crianças dizem que o senhor não existe. Mas eu acho que sim”, sentencia Rute dos Santos, 9. Papai Noel agradece.
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