Os poderes tentaculares e quase sem digitais do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu operaram uma mudança na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF). A Corte deverá consolidar novos parâmetros para a responsabilização de autoridades públicas que cometeram crimes sem deixar rastros de seu envolvimento com a provável condenação, nesta semana, do "capitão do time" do primeiro governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva por participação no mensalão.
Não há contra Dirceu prova material do envolvimento, como uma assinatura ou a gravação de uma conversa comprometedora. Mas seus encontros regulares com réus dos diferentes núcleos do esquema e sua ascendência sobre o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares farão com que o tribunal corrobore a tese da acusação de que ele tinha o "domínio funcional do fato".
Os ministros deixarão claro que é impossível que José Dirceu, o mais poderoso dos ministros no primeiro governo Lula, não soubesse do esquema de compra de votos, visto que era seu papel a articulação política da base aliada. Em seu voto, o relator do processo, Joaquim Barbosa, destacou o trânsito de Dirceu com diversos dos réus, a maioria já condenada.
"José Dirceu manteve encontros-chave com todos esses personagens intermediários que, a seguir, executaram a tarefa de disponibilizar os recursos de aparência lícita e efetivar os repasses das vantagens indevidas aos parlamentares da base aliada." Mereceu destaque especial a relação do ex-ministro da Casa Civil com o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, o operador do esquema.
Além de ter participado de reuniões no Planalto, Valério é apontado por dirigentes bancários como Kátia Rabello, ex-presidente do Banco Rural, e Ricardo Guimarães, ex-presidente do BMG, como um facilitador no acesso ao governo e responsável por agendar reuniões com o ex-ministro. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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