Para além da disputa pela Prefeitura de Fortaleza, a eleição de ontem foi também uma prova de forças para duas lideranças que figuraram no confronto à espreita dos candidatos oficiais. Há quem avalie que, mais do que os próprios postulantes, a prefeita Luizianne Lins (PT) e o governador Cid Gomes (PSB) se viram imersos numa campanha de medição de poder. Uma queda de braço que ultrapassou os limites da disputa por uma gestão.
O candidato eleito representaria a confiança e a aprovação de mais da metade de uma cidade depositadas em um dos fiadores daquele que venceria o pleito. Vitória que significaria também interesses pelo que virá em dois anos.
A despeito da aliança entre PT e PSB, lá se vão 24 anos desde que o Governo do Estado conseguiu eleger um prefeito, que tinha seu apoio isolado, na Capital. Curiosamente, a última vez em que isso ocorreu foi em 1988, quando Ciro Gomes (à época no PMDB) foi eleito prefeito sob as bênçãos do então governador Tasso Jereissati. Em Fortaleza, pela primeira vez em 10 anos, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sai derrotado.
O início do fim
Quando o PT anunciou o nome de Elmano de Freitas para entrar na briga pela sucessão municipal, era previsível que o capítulo seguinte seria a ruptura da aliança com o PSB, que perdurava por oito anos. Ainda em julho, o presidente nacional petista, Rui Falcão, chegou a barganhar o apoio do PSB, em um acordo que já vislumbrava o pleito de 2014. Nos termos da manobra, o PT se aliaria ao PSB de Cid na sucessão para o Estado em 2014. A oferta não vingou.
O dinamismo da política terminou por sentenciar o fim da aliança entre os dois partidos quando o grupo de Cid e Ciro Gomes anunciou que não se curvaria ao candidato apontado pelo PT. “Ele representa a continuidade de uma administração exaurida”, justificou o governador no dia em que lançou o deputado estadual Roberto Cláudio (PSB) para a disputa pela Prefeitura.
A campanha que viria a seguir demarcou como nunca a desgastada relação entre Luizianne e Cid. Durante todo o percurso, não faltaram trocas de insultos. O que um dia foi convenientemente chamado de aliança acabou quando as agressões mútuas passaram a ser pessoais.
A partir daí, evidenciou-se quão eleitoreira havia se mostrado a aliança que conseguiu se sustentar por quase uma década em âmbito municipal. Mas, se o fim está decretado na relação que um dia existiu em Fortaleza, nas esferas estadual e nacional tudo segue em aberto.
Ontem, Luizianne chegou a dizer que se arrependia de um dia ter apoiado a eleição de Cid. Um indicativo de que, no que depender da presidente estadual do PT, os dois partidos não voltarão às núpcias em 2014. Cid Gomes, por outro lado, sinalizou que não abrirá mão do apoio petista daqui a dois anos.
Liderança das mais representativas no PT, o deputado federal José Guimarães disse que a relação entre os dois partidos sofrera “fratura exposta”, “sequelas quase intransponíveis”. Um dos coordenadores de campanha de Elmano, o deputado Antônio Carlos (PT) fez avaliação semelhante.
No jogo de faz-e-desfaz aliança, Ciro Gomes seguiu o que havia dito o irmão governador: “A questão da eleição municipal nos pôs em antagonismo ao PT. Colidimos, mas isso cria uma tensão que terá de ser superada.” Para os rumos de 2014, o resultado de ontem, no fim das contas, pouco disse. (colaborou Alan Santiago)
Governador Cid Ferreira Gomes: a última vez em que o Executivo estadual conseguiu eleger o prefeito da Capital foi há mais de duas décadas, em 1988
Prefeita Luizianne Lins: quando o PT anunciou o nome de Elmano, era previsível que o capítulo seguinte seria a ruptura da aliança com o PSB
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