domingo, 24 de fevereiro de 2013
Menor admite disparo de sinalizador e afirma: "não protegi ninguém"
O torcedor do Corinthians que teria atirado o sinalizador na torcida do San José (Bolívia), durante jogo entre as duas equipes na última quarta-feira, afirmou neste domingo que tomou a decisão de assumir a responsabilidade por conta da própria culpa pelo ato, e descartou a hipótese de que poderia estar encobrindo reais responsáveis. Em entrevista ao programa Fantástico, da Rede Globo, o adolescente A. H. N., que não foi identificado, assumiu a postura para evitar injustiça com os 12 torcedores presos na Bolívia para averiguação.
“Não protegi ninguém, não. Só quero assumir meu erro mesmo. Não é certo as pessoas pagarem por coisa que não fez. Se eu estivesse no lugar deles, não queria ficar preso injustamente”, declarou o torcedor, ao lado da mãe. Integrante da Gaviões da Fiel, torcida organizada do Corinthians, o adolescente disse ter cogitado a possibilidade de assumir a responsabilidade ainda enquanto estava na Bolívia.
“Perguntei (aos integrantes da Gaviões da Fiel) se eu podia me entregar. O pessoal recomendou: ‘melhor não se entregar. Você está com nós (sic), sob nossa responsabilidade’.”
O sinalizador disparado por A. durante o jogo San José 1 x 1 Corinthians, pela primeira rodada da fase de grupos da Copa Libertadores, acertou o rosto de Kevin Douglas Beltrán Espada, 14 anos, torcedor da equipe boliviana. Kevin não resistiu aos ferimentos e morreu. Segundo o torcedor corintiano, o disparo do artefato para a torcida boliviana foi acidental.
“Naquele exato momento em que o sinalizador disparou, eu estava comemorando o gol (de Paolo Guerrero, para o Corinthians, no início do jogo). Trouxe o sinalizador na minha mochila. Fui acender. Para mim, era igual os outros. Tirei a tampinha em cima, puxei a cordinha embaixo e não aconteceu nada. Quando puxei pela segunda vez, disparou para a torcida boliviana”, afirmou. “Não fiz nenhum tipo de mira. Estava apoiando na minha mão. Não sabia que o negócio ia sair voando ou algo parecido”, acrescentou.
A. afirmou ainda ter procurado informações no intervalo do jogo com a polícia boliviana sobre possíveis feridos, sem obter resposta. “Perguntei para os policias se tinha machucado alguém. Disseram que estava tudo bem”, disse ele, informado apenas após o fim do jogo a respeito de uma vítima fatal. “Fui saber que morreu só na volta, na internet. Para mim, depois daquele momento, eu disse: ‘minha vida acabou, matei uma criança de 14 anos de idade’.”
Segundo o advogado Ricardo Cabral, que responde pela Gaviões da Fiel, o adolescente deverá se apresentar à justiça na tarde desta segunda-feira. O juiz deverá aplicar uma medida sócio-educativa ao infrator e entregar sua guarda à mãe. Sentada ao lado do adolescente durante a entrevista, a mãe de A. assegurou que entregaria o próprio filho se ele mesmo não tomasse a iniciativa de se apresentar à justiça.
“Ele sabe, ele me conhece”, disse a mãe, que também não foi identificada, dizendo que pediria perdão à mãe de Kevin Douglas se pudesse encontrar a família do torcedor boliviano. “Eu sei a dor que ela está sentindo. Sei que jamais... Mãe nenhuma perdoa”, completou, emocionada.
Ainda sem saber seu destino na justiça, o adolescente disse que pediria perdão “não só para a família do Kevin, mas para a família dos meninos que estão presos lá também”. “Me sinto a pior pessoa do mundo. Não sei o que fazer da minha vida”, encerrou.
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