Somente após o pagamento e assinatura de documentos em cartório, Kézia informava às vítimas de que a casa havia sido conseguida pela Suhab e que só poderia passar a escritura do imóvel para o nome dos compradores após o período de um ano.
Alcides Oliveira de Aguiar, empreendedor, achou estranho e preferiu desfazer o negócio. Ele descobriu a fraude e conheceu novas vítimas.
“Quando quis meu dinheiro de volta, ela passou a se comunicar comigo apenas por mensagem de celular. Dizendo que estava grávida e não podia devolver o dinheiro no momento. Eu resolvi vir até aqui (imóvel) e fiquei chocado ao encontrar outra pessoa na mesma situação. Nós ligamos as coisas e vimos que caímos em um golpe”, comenta Aguiar, que foi lesado no mês outubro de 2012.
Segundo as vítimas, Lúcio Fábio Cordeiro Ribeiro passou a se apresentar como advogado de Kézia. “Ele sempre pedia prazos para entregar a chave da casa ou para devolver o dinheiro, dependendo de quem ele estivesse tratando. Para mim, ele passou um cheque de R$ 26 mil sem fundo no nome do marido dela, o Gonzaga”, disse Priscilla Lopes, autônoma, que comprou a casa no fim de setembro.
Todas as quinze vítimas se uniram, e, revoltadas, fizeram boletins de ocorrência em cinco Distritos Integrados de Polícia (DIP), levando em mãos o contrato passado em cartório e a suposta escritura da casa.
Contato
A reportagem entrou em contato com Carlos Alberto Gonzaga nesta quinta-feira (3). Ele atendeu a ligação telefônica, confirmou que o número informado pelas vítimas era dele e que trabalhava com corretagem de imóveis, mas ao ser informado que falava com a reportagem de A Crítica desligou o celular e deixou de atender novas ligações.
Em nota a Suhab informou que a casa citada na reportagem está no nome do senhor Carlos Alberto e que há registro de que o mesmo trabalhava como mecânico.
Prazo de 10 anos
Ainda de acordo com a Suhab, no ato da entrega do imóvel é assinado um contrato com o beneficiado onde o mesmo concorda em não ceder, alugar e comercializar o imóvel por um período mínimo de 10 anos. O contrato prevê ainda que caso as cláusulas sejam rescindidas caberá a Suhab a retomada do imóvel, após a realização de investigação deste órgão.
A Suhab acompanha o caso. A Polícia Civil também realiza investigações e acompanha as vítimas.
Medo e Desespero
O sonho de ter a casa própria fez com que muitos dos que caíram no golpe vendessem pertences e até mesmo contraíssem dívidas para obter empréstimos. É o caso da dona de casa Arlene da Silva Rodrigues, que perdeu toda sua economia. “Juntei dinheiro com meu marido durante sete anos e foi tudo para o ralo. Agora estou morando de favor até encontrar alguma coisa que esteja dentro do meu orçamento para aluguel. Quero meu dinheiro de volta e quero justiça”, lamenta.
José Antônio Cordeiro de Oliveira, pedreiro, foi o último a cair no golpe, com a esposa e o filho pequeno ele está morando no local desde o começo de dezembro. “Todos chegaram a um consenso de me deixar morando aqui, pois não tenho qualquer condição de ir para outro lugar, dei um dinheiro que não tinha, estou trabalhando para pagar o empréstimo que fiz. Estou morando aqui, mas não sei até quando”, comenta Antônio.
Ele afirma que dois homens se identificando como policiais já estiveram na casa há alguns dias atrás e lhe fizeram ameaças. “Eles estavam em um carro descaracterizado, sem uniformes. Um afirmou ser cabo da polícia e o outro delegado. Me disseram que era para eu sair da casa, que pertencia à ele. Que a Kézia vendeu algo que não era dela. Não sei quantas pessoas estão envolvidas nesse esquema. Tenho medo”, completou o pedreiro.
Alerta
A Superintendência de Habitação do Amazonas (Suhab) ressaltou em nota que antes de fechar qualquer tipo de negócio com imóveis entregues pelo governo do estado, é preciso procurar a Suhab para saber se a comercialização pode ser realizada.
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